sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Aventura com Umas Moças Brancas: Uma transferência que se transformou numa divisão

Não faz muito tempo fui procurado por um camarada daqui de Vitória, o Judismar mais conhecido por Júlio, que desejava começar na meliponicultura.
Ele demonstrou muito interesse e percebe-se que logo será um grande meliponicultor, o que para mim é muito bom, pois sinto falta de ter por perto alguém para trocar figurinhas. 
O fato é que logo após o contato inicial ele me procurou de novo, desta vez para dizer que encontrou um tipo de jataí grande em um tronco velho e já caído. chamou-me para ir com ele buscá-lo na paradisíaca Santa Cruz e trazer para Vitória. Claro que aceitei na hora.
Chegando ao local logo deu para perceber que não eram jataís pois a abelha apesar ser um pouco parecida na forma, era bem maior e a entrada diferente. Depois de uma pesquisa na net e a confirmação no grupo abena - br.groups.yahoo.com/group/abena/ - concluímos então que deve ser  a Moça Branca Friseomelitta varia. Trata-se de uma abelhinha especial: belas e mansa (não mordem nem agarram nos cabelos), e o mel é muito bom.  
Trouxemos o ninho para Vitória e esperamos um mês para as moças irem conhecendo os caminhos das pedras, quer dizer, das flores, para depois tentar a transferência para um caixa racional.
 Júlio e as suas moças
Marcada a data, percebi que a caixa providenciada por ele era pequena, assim optei por utilizar uma caixa RLT que a princípio parecia ser grande, composta de duas alças de 20 x 20 x 10, cada, com porão e labirinto. Em fim,  preferi esta à pequena caixa do Júlio.   
Como eu mal havia sido apresentado às charmosas moças, fiquei tímido e também bastante apreensivo, pois até então não havia feito nenhuma transferência de colônia alojada em tronco, muito menos manejado abelhas que possuem favos em cacho. Isto sem contar com o fato de que como as abelhas não me pertencem, a responsabilidade era ainda maior. Vai que o manejo fosse um fracasso! O Júlio poderia ficar frustrado e até desistir da meliponicultura.


Mas como eu estava com o meu amuleto da sorte - o  boné da Abena - relaxei, pois desde que ele chegou foi utilizado em todos os manejos com 100% de sucesso. Assim, fomos à luta com os apetrechos por perto:  fita para vedar as juntas da caixa, sugador de abelhas, local para guardar a rainha, xarope, ferramentas... e o principal: equipe à postos. Aliás, uma equipe e tanto, composta por Júlio, a sua filhinha Karol que com apenas sete anos não amarelou diante da responsabilidade de ser fotógrafa, cinegrafista e ajudante geral e completando o time, este que vos escreve. 
Vejam o meu ar preocupado. No começo eu estava temendo a possiblidade de tudo sair errado. Depois pensei: Porque me preocupar, se estou com meu boné da sorte? Afinal, um abenalta, nunca treme.

Ainda com cortiço em seu lugar original, o Júlio foi logo retirando o pito de entrada e o transplantou para a caixa já vedada por mim com o meu "espetacular" senso estético, que me caracteriza. Como podem ver na foto baixo, uma "verdadeira obra de arte":

Daí, retiramos o velho tronco do local, deixamos bem perto,  e colocamos a caixa para receber as campeiras. Ao dar umas pancadas no tronco para que as abelhas saírem, o meu sentimento com relação às belas loiras começou a mudar, pois até então era de simpatia e quando começaram a sair aos montes, e se  dirigirem para o antigo local do ninho, sem se agarrar nos nossos cabelos, e não  nos atacar como fazem, por exemplo, as valentes jataís, a simpatia começou a virar paixão; afinal das contas elas não são apenas belas, mas, também fazem um alimento delicioso e ainda por cima, são calminhas, calminhas.
Chegou então, o momento de abrir o tronco (ou galho). Como já havíamos imaginado, foi como mamão com mel, pois como ele já estava bem rachado e não ofereceu qualquer tipo de resistência à  força do Júlio. 

O tronco foi posto próximo ao local original, onde já estava a caixa que receberia a colônia. Tivemos o cuidado de manter na mesma posição desde a coleta no mato.


  Conseguimos abrir o tronco ao meio, sem estragar os favos de cria ou derramar mel. O oco relativamente estreito ocupava no comprimento mais de um metro de favos e de mel 


Parte dos muitos favos de cria que estavam espalhados por grande extensão do oco


Daí, eu me encarreguei de cuidadosamente ir retirando os favos de crias, que não eram poucos, e ia transferindo e colando nas paredes e  também dispondo no fundo da caixa, que a esta altura eu não mais considerava  grande, dada a quantidade de favos. Enquanto isto, Júlio utilizando o seu hiper-sugador feito com um copinho da Karol, sugava as abelhas que não voaram e procurava pela rainha. A promissora Karol ia se diplomando na arte de fotografar, filmar e de quebra nos ajudava em tudo mais.
Com muita calma, descolando os favos de cria 

Depois de retirados os favos foram pacientemente distribuídos pela caixa composta de ninho e sobre ninho com espaço disponível de 20 x 20 x 16 cm. Abaixo do ninho um labirinto e porão (projeto do Rilen - RJ)

A transferência  transcorria relativa bem. Por que relativamente?... Favos retirados íntegros e transferidos sem transtorno, potes de mel intactos, sucesso na coleta das abelhas que não voavam... Mas, cadê a rainha? nada da mãezona. Já haviámos transferido quase todos os favos e nada da chefona. O problema é que  o pau-de-ninho estava bem acabadinho e contava com muitos buracos, valas, entranhas e que mais o querido leitor imaginar como sendo locais para um pequeno inseto se esconder. Além do fato de que  não estávamos encontrando a poderosa, havia ainda a questão das abelhinhas que se aninhavam em locais  que nem o Júlio com o seu pulmão turbinado conseguia aspirar.    
Só nos restava então, sair detonando o tronco atrás de qualquer espaço onde a rainha poderia estar. Isto com certeza poderia resultar na morte da madame.
Foi então que me veio uma idéia que de imediato apresentei para o meu novo amigo e tratamos de pôr em prática: Remontar o tronco. Já que não era totalmente garantido que a rainha realmente estivesse lá, viva e forte, aliás, não dava nem para garantir que havia uma rainha... Vai que se tratava de uma família  recém orfanada, não é verdade? Tudo é possível. Inclusive o improvável. Diante disto, mantivemos no tronco alguns favos nascentes e também favos novos, pois nesta espécie não há realeira, e as princesas não saem de células comuns como nas meliponas. No caso das friseomelittas, a rainha origina-se de uma invasão: a larva de  uma célula invade uma célula vizinha e come todo o alimento e provavelmente, a outra larva também. Desta invasão, surge a futura rainha. Ficou no tronco, também parte do mel, e aquelas abelhas que Júlio não estava conseguindo sugar e as campeira que não saiam de perto. 
Como ele estava aberto em duas partes mais algumas lascas avulsas fomos como num quebra - cabeças, recolocando as partes no lugar. É isto mesmo: remontamos o cortiço. Com arame e alicate, juntamos firmente as partes e serramos a parte de baixo e adaptamos um suporte com um pedaço de tábua. Em seguida, com muita argila, fechamos todas as frestas, buracos e afins. Vejam o resultado:

  
Seis dias após o manejo, retornei ao local e fiquei muito feliz ao ver o intenso movimento de abelhas, não só na caixa, mas também no tronco.
Espero que em breve estajamos fazendo uma divisão utilizando favos da caixa e campeiras do tonco.

 Assim, fica aqui narrada a história de uma transferencia que se transformou numa divisão, e também, fica contado como surgiu a minha paixão por estas moças que agora quero também possuir (no bom sentido), e com elas conviver até que a morte nos separe. 

Complementando:
Vídeos da transferencia:

http://www.youtube.com/watch?v=fgX-oUP8QZk



http://www.youtube.com/watch?v=75cfYqA2UdM


http://www.youtube.com/watch?v=-YJ37D6m93g

Vídeo do tronco depois da divisão.

Conhecendo mais um pouco: 


       




2 comentários:

  1. Muito bom mesmo joao, Veleu a experiencia.

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  2. Amigo João,

    parabéns pela transferência e pela postagem,ficou ótima!!

    Eu sou suspeito pra falar sobre essa abelhinha,pois sou um apaixonado por elas,e só tenho elogios a fazer a essa espécie,que é uma das melhores pra se ter em casa,sem ter problemas com crianças,vizinhos,etc.;além do mais elas produzem um mel delicioso,e são rústicas e produtoras...

    Quem tem contato com as asf,dificilmente não se apaixona por elas;mas quem tem contato com as moças brancas;se apaixonam com certeza...

    Grande abraço.
    Paulo Romero.
    Meliponário Braz.
    Jão Pessoa,PB.

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