quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Abelhas nativas sem ferrão (ASF) como agentes polinizadores


 
Voando de flor em flor em busca do néctar, fonte dos diversos açúcares que compõem o mel ou do pólen, fonte de proteínas para o desenvolvimento da cria, as ASF executam um serviço da maior importância para as plantas que dependem da polinização cruzada. Quando transferem grãos de pólen de uma flor (gametas masculinos) para o estigma (receptor feminino) de outra flor da mesma espécie fecha-se o ciclo inicial da geração de novas plantas.
 
Assim, ao longo de centenas de viagens, as ASF contribuem instintiva e naturalmente com o surgimento de frutos de maior qualidade, melhor apresentação e mais sementes.
E isto é polinização: uma relação benéfica entre as plantas e as ASF polinizadoras. Um serviço ambiental da maior importância, fundamental na preservação de matas e melhoria dos projetos agrícolas.
 
Dentre todos os polinizadores da natureza, os insetos, dentre eles as ASF, são os mais importantes, possuindo mecanismos apropriados para o transporte dos grãos de pólen.
 
Muitas plantas dependem da polinização cruzada ou alogamia por terem alguma característica que as impedem de executar a auto-polinização. Por exemplo, elas podem ter flores somente masculinas ou somente femininas; maturação diferenciada entre os órgãos reprodutores, precisando associar-se a uma segunda ou terceira planta que complemente o ciclo; grande distância entre estigma e estame; ou, ainda, flores com morfologia rebuscada, dificultando ou impedindo a transferência de grãos de pólen.
 
Pesquisas utilizando abelhas na polinização aumentaram a qualidade e produtividade de culturas como: abóbora, café, cebola, maçã, pêssego e laranja, entre outras. As ASF melhoram a variabilidade genética entre plantas da mesma espécie. E em plantas que não dependem da polinização cruzada existem registros de melhora da quantidade e do número de grãos e sementes, originando plantas mais vigorosas e produtivas. Mas ainda há muito que se saber sobre essa atividade.
 
Conclui-se que as ASF e as flores estão intimamente relacionadas. Não só pela produção de mel, mas por seu valor como seres indispensáveis para manter e perpetuar as plantas e ampliar
a produção agrícola.
 
Sem os polinizadores o produtor é que terá de executar essa tarefa, o que seria inviável em plantas de flores minúsculas ou em grandes quantidades de flores. Logo, esse é um serviço de ecossistemas, sendo mais barato preservar do que pagar os custos dos prejuízos da destruição ambiental.
 
Então precisamos promover e expandir a conscientização sobre o valor da diversidade de polinizadores e os seus benefícios. Desenvolver incentivos como o da "Pollinator Partnership", uma ONG dos Estados Unidos que premia governos e fazendeiros que os protegem. É oportuno estimular o plantio de árvores nectaríferas para formação de pasto melífero para o sustento dasASF. Enfim, manter colônias de ASF nos sítios, escolas, hortos, lotes urbanos, praças e até em apartamentos nos andares mais baixos. Assim, as ASF irão polinizar as plantas ao redor.
 
Estudos indicam que um terço da produção mundial de alimentos depende de polinizadores. Levantamentos internacionais indicam que o desaparecimento dos insetos polinizadores seria um desastre ambiental e econômico. Segundo Mc Gregor 1976, Morse and Calderone (2000), o valor das abelhas na polinização de algumas culturas é de 60 a 100 vezes o valor do mel.
 
Neste contexto, iniciativas devem ser fomentadas pelos governos, organizações não governamentais e sociedade civil, sob risco de perdermos os nossos polinizadores em função da degradação ambiental, do desmatamento contínuo, da poluição, do uso intensivo de agrotóxicos, do extrativismo predatório e da intensificação das alterações climáticas. Isto tudo têm afetado as ASF, comprometendo a natureza e a produção agrícola.
 
É dever de todos promover a preservação e o uso racional e sustentável dos polinizadores para o bem dos ecossistemas e da agricultura, para que possamos usufruir de saúde com mel, pólen e própolis das ASF.
 
ARTIGO: Jean Carlos Locatelli/ AMESG - ABENA
 
Mais informações com o autor: jeanlooc@yahoo.com.br
 

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Estudos apontam potencial da própolis verde para tratar problemas bucais

Fonte: correiobrasiliense.com.br

Nayara Menezes
Publicação: 03/11/2010 11:38

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Belo Horizonte —
Apesar de serem temidas pela maioria das pessoas por sua picada potente, as abelhas fazem muito bem ao homem, até mais do que se imagina. Além do saboroso mel, benéfico à saúde, esses espertos insetos voadores produzem a própolis, eficiente antibiótico natural que vem revelando, a cada dia, mais propriedades terapêuticas. Uma pesquisa feita pela Fundação Ezequiel Dias (Funed), em Belo Horizonte, descobriu outra aplicação para a substância: a prevenção e o tratamento de doenças inflamatórias na boca, como gengivite, mucosite e candidíase crônica.

A partir da descoberta, o grupo, coordenado pela bióloga Esther Margarida Bastos, desenvolveu um gel e um enxaguatório bucais à base da própolis verde, um dos 13 tipos existentes no Brasil. A intenção é fazer com que os produtos sejam disponibilizados no Sistema Único de Saúde (SUS). Caso isso ocorra, os cientistas da Funed podem disponibilizar o primeiro enxaguatório fabricado no Brasil, já que todos os existentes no mercado são produzidos por empresas multinacionais.

O ineditismo do estudo não para por aí. Em parceria com a Funed, o dentista Ronaldo Rettore Júnior realizou a primeira pesquisa mundial usando a própolis verde na prevenção e no tratamento de inflamações em implantes dentários. “Buscamos na literatura internacional alguma experiência similar e não encontramos. Somos os primeiros a usar a própolis com esse objetivo”, garante. Os testes feitos em laboratório apresentaram resultados animadores.

“O enxaguatório à base de própolis se mostrou tão eficaz quanto o convencional no tratamento dos processos inflamatórios”, afirma o dentista. Segundo ele, a clorexidina, princípio ativo usado em 90% dos antissépticos bucais, provoca efeitos colaterais no uso prolongado, como a perda do paladar e o aparecimento de manchas dos dentes. Já a própolis não apresenta nenhum desses inconvenientes. O único desafio, segundo o dentista, é chegar a uma fórmula com aroma e gosto mais atrativos, já que o natural não agrada a muitas pessoas.

Os resultados dos testes serão publicados este mês, durante a apresentação da tese de doutorado de Ronaldo Rettore, no curso de pós-graduação em implantodologia da Universidade São Leopoldo Mandic, em Campinas (SP). A partir daí, serão feitos experimentos em pacientes para confirmar os testes laboratoriais. Em seguida, se os resultados forem positivos, o produto fabricado pela Funed estará apto a ser comercializado ou oferecido pelo SUS.

Caso saia tudo de acordo com o esperado, o enxaguatório deve ter seu uso expandido, além do propósito para o qual foi criado — recuperação de pacientes com implante dentário. “Ele poderá ser usado
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por qualquer pessoa na prevenção de cáries, gengivites e outras doenças bucais, substituindo os enxaguatórios comercializados atualmente”, afirma o especialista.

Dentaduras
Outra pesquisa feita por profissionais da Funed testou a própolis no tratamento da candidíase atrófica crônica, doença comum em pessoas que usam prótese dentária total. “A maioria dos pacientes tem dificuldade em higienizar a dentadura e muitos dormem com ela, o que provoca a proliferação dos micro-organismos e causa a enfermidade”, explica Esther Bastos.

O tratamento convencional é feito com medicamentos à base de miconazol, um princípio ativo forte, que costuma gerar efeitos colaterais adversos, segundo a bióloga. Os 30 pacientes que participaram dos testes usaram o gel fabricado por 30 dias. “O medicamento se mostrou altamente eficaz”, afirma a pesquisadora. Além de não provocar efeitos colaterais, o gel também tem preço inferior ao medicamento convencional.

Os dois produtos, fabricados em parceria com as faculdades de odontologia da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas) e da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), já foram encaminhados para o registro de patente. “Laboratórios internacionais também demonstraram interesse em produzir os medicamentos por meio da assinatura de um convênio de transferência de tecnologia”, revela a bióloga da Funed.

Propriedades terapêuticas
Muitas pesquisas vêm sendo desenvolvidas com a própolis, que se mostrou positiva para curar várias infeções, como estomatite, amidalite e gengivite. Ela age como bactericida, cicatrizante e antisséptico; fortalece a ação imunológica no organismo; reduz efeitos colaterais de anticancerígenos e da radioterapia; previne e trata pneumonia crônica e bronquite infantil; ajuda na recuperação de pacientes com queimaduras graves, entre outras aplicações.

Origem
A própolis verde é produzida a partir da mistura de uma cera produzida na saliva das abelhas e de uma resina que esses insetos retiram do alecrim do campo, conhecido popularmente por vassourinha. A própolis serve tanto para proteger a colmeia, funcionando como vedante, quanto para envolver as abelhas que morrem dentro da colmeia e não podem ser retiradas por algum motivo. Esse uso, inclusive, chegou a ser copiado pelos humanos. Registros históricos dão conta de que os egípcios já usavam a própolis para embalsamar suas múmias.