segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Estudos apontam potencial da própolis verde para tratar problemas bucais

Fonte: correiobrasiliense.com.br

Nayara Menezes
Publicação: 03/11/2010 11:38

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Belo Horizonte —
Apesar de serem temidas pela maioria das pessoas por sua picada potente, as abelhas fazem muito bem ao homem, até mais do que se imagina. Além do saboroso mel, benéfico à saúde, esses espertos insetos voadores produzem a própolis, eficiente antibiótico natural que vem revelando, a cada dia, mais propriedades terapêuticas. Uma pesquisa feita pela Fundação Ezequiel Dias (Funed), em Belo Horizonte, descobriu outra aplicação para a substância: a prevenção e o tratamento de doenças inflamatórias na boca, como gengivite, mucosite e candidíase crônica.

A partir da descoberta, o grupo, coordenado pela bióloga Esther Margarida Bastos, desenvolveu um gel e um enxaguatório bucais à base da própolis verde, um dos 13 tipos existentes no Brasil. A intenção é fazer com que os produtos sejam disponibilizados no Sistema Único de Saúde (SUS). Caso isso ocorra, os cientistas da Funed podem disponibilizar o primeiro enxaguatório fabricado no Brasil, já que todos os existentes no mercado são produzidos por empresas multinacionais.

O ineditismo do estudo não para por aí. Em parceria com a Funed, o dentista Ronaldo Rettore Júnior realizou a primeira pesquisa mundial usando a própolis verde na prevenção e no tratamento de inflamações em implantes dentários. “Buscamos na literatura internacional alguma experiência similar e não encontramos. Somos os primeiros a usar a própolis com esse objetivo”, garante. Os testes feitos em laboratório apresentaram resultados animadores.

“O enxaguatório à base de própolis se mostrou tão eficaz quanto o convencional no tratamento dos processos inflamatórios”, afirma o dentista. Segundo ele, a clorexidina, princípio ativo usado em 90% dos antissépticos bucais, provoca efeitos colaterais no uso prolongado, como a perda do paladar e o aparecimento de manchas dos dentes. Já a própolis não apresenta nenhum desses inconvenientes. O único desafio, segundo o dentista, é chegar a uma fórmula com aroma e gosto mais atrativos, já que o natural não agrada a muitas pessoas.

Os resultados dos testes serão publicados este mês, durante a apresentação da tese de doutorado de Ronaldo Rettore, no curso de pós-graduação em implantodologia da Universidade São Leopoldo Mandic, em Campinas (SP). A partir daí, serão feitos experimentos em pacientes para confirmar os testes laboratoriais. Em seguida, se os resultados forem positivos, o produto fabricado pela Funed estará apto a ser comercializado ou oferecido pelo SUS.

Caso saia tudo de acordo com o esperado, o enxaguatório deve ter seu uso expandido, além do propósito para o qual foi criado — recuperação de pacientes com implante dentário. “Ele poderá ser usado
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por qualquer pessoa na prevenção de cáries, gengivites e outras doenças bucais, substituindo os enxaguatórios comercializados atualmente”, afirma o especialista.

Dentaduras
Outra pesquisa feita por profissionais da Funed testou a própolis no tratamento da candidíase atrófica crônica, doença comum em pessoas que usam prótese dentária total. “A maioria dos pacientes tem dificuldade em higienizar a dentadura e muitos dormem com ela, o que provoca a proliferação dos micro-organismos e causa a enfermidade”, explica Esther Bastos.

O tratamento convencional é feito com medicamentos à base de miconazol, um princípio ativo forte, que costuma gerar efeitos colaterais adversos, segundo a bióloga. Os 30 pacientes que participaram dos testes usaram o gel fabricado por 30 dias. “O medicamento se mostrou altamente eficaz”, afirma a pesquisadora. Além de não provocar efeitos colaterais, o gel também tem preço inferior ao medicamento convencional.

Os dois produtos, fabricados em parceria com as faculdades de odontologia da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas) e da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), já foram encaminhados para o registro de patente. “Laboratórios internacionais também demonstraram interesse em produzir os medicamentos por meio da assinatura de um convênio de transferência de tecnologia”, revela a bióloga da Funed.

Propriedades terapêuticas
Muitas pesquisas vêm sendo desenvolvidas com a própolis, que se mostrou positiva para curar várias infeções, como estomatite, amidalite e gengivite. Ela age como bactericida, cicatrizante e antisséptico; fortalece a ação imunológica no organismo; reduz efeitos colaterais de anticancerígenos e da radioterapia; previne e trata pneumonia crônica e bronquite infantil; ajuda na recuperação de pacientes com queimaduras graves, entre outras aplicações.

Origem
A própolis verde é produzida a partir da mistura de uma cera produzida na saliva das abelhas e de uma resina que esses insetos retiram do alecrim do campo, conhecido popularmente por vassourinha. A própolis serve tanto para proteger a colmeia, funcionando como vedante, quanto para envolver as abelhas que morrem dentro da colmeia e não podem ser retiradas por algum motivo. Esse uso, inclusive, chegou a ser copiado pelos humanos. Registros históricos dão conta de que os egípcios já usavam a própolis para embalsamar suas múmias.

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