domingo, 10 de outubro de 2010

O Equivocado Incentivo Institucional à Criação de Abelhas Africanizadas Próximo aos Parques Nacionais.

     O Município de Dores do Rio, entorno no Parque Nacional do Caparaó, pretende ver a sua produção de mel de abelhas apis dobrada. A pergunta deve ser se isto é uma decisão coerente com  a concepção de preservação ambiental adequada para  uma região inserida no contexto de um importante parque nacional.
     A união de esforços por parte do Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper),Prefeitura de Dores do Rio Preto, a Federação Capixaba das Associações de Apicultores (Fecapis) e a Associação Apícola Sustentável do Caparaó Capixaba (Apimel). Os  recursos vieram da   SAMARCO, liberados ao município de Dores que foi o vencedor com o Projeto 'Desenvolvimento da Apicultura Sustentável', elaborado pelo Incaper em parceria com o Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae).
     Antes da implementação do projeto, existiam conhecidas, 120 colônias em caixas com os produtores. Fora uma outra quantidade na natureza.

     Com o projeto, só de saída, foram entregues a 12 apicultores, 120 colméias e kits para a produção. Além disto, foi inaugurada uma unidade de processamento de mel. Por ironia, a entrega dos kits e a unidade de processamento ocorrem em Pedra Menina, um ícone do Parque Nacional do Caparaó, um portal para o Pico da Bandeira, uma região que deveria estar sendo preservada a qualquer custo.
     A intenção dos envolvidos até que foi boa. Pretendia-se uma diversificação da agricultura, polinização do café e acreditavam no projeto como uma ação ambiental, graças à polinização proporcionada pelas abelhas. 
     Mas infelizmente os envolvidos não se lembraram que é uma regra básica em locais em que se busca preservar o que ainda resta de patrimônio ambiental, ou mesmo recuperar áreas já degradadas, é não inserir elementos exóticos nestes ambientes.
     Valerá a pena, em troca da produção de mais 03 ou quatro toneladas de mel, colocar neste tipo de ambiente mais abelhas de outros continentes, abelhas muito enxameadoras, esfomeadas e também estremamente defensivas com ferrão e veneno,(Apitoxina) ?
     A Região do Caparaó possui uma invejável quantidade e variedade de abelhas nativas sem ferrão, já localizei espécies raras, que nem sequer constavam como presentes no ES, como é o caso da Schwarziana mourei. Pode ainda  possuir  abelhas ainda não identificadas, pode até surpreender apresentando entre as suas centenas  de espécies, a própria uruçu capixaba, esta maravilhosa  espécie que fascina criadores e pesquisadores de todo o Brasil, e mesmo tendo tudo para ser mais um símbolo do Espírito Santo, permanece desconhecida pelos capixabas. 
     Este projeto de criação de abelhas africanizadas tão junto a um Parque Nacional tem a interessante pretensão de favorecer a a economia local. Mas, não se deve deixar de vislumbrar que  vocação maior da Região do Caparaó não é a apicultura, mas sim o turismo, principalmente o turismo ecológico, aquele movido por pessoas que  desejam estar em locais preservados.  O caminho para o Caparaó é a preservação, e preservação é também NÃO incentivar a criação de animais e plantas de outros ecossistemas.  
     É sempre bom lembrar que ainda não sabemos tudo sobre a relação planta / inseto que envolve o processo de polinização; mas sabe-se que as abelhas nativas fazem a polinização de mais de noventa 90% da Mata Atlântica, e que existem plantas que são polinizadas exclusivamente por abelhas nativas. 
     A abelha apis visita quase todas a flores mas a sua forma não permite polinizar boa parte delas. Ou seja, há mais africanizadas  se alimentando do que polinizando. Além disto, com o desmatamento dos últimos anos as abelhas nativas estão com dificuldades para encontrar locais para nidificar (construir seus ninhos) e o projeto vai permitir de início, mais 120 caixas de abelhas exóticas com altas possibilidades de que venham um dia  a disputar os ocos de árvores com as nossas mandaçais,uruçus, jataís, e centenas de outras espécies nativas do Caparaó.
     Como de boa intenção o inferno está cheio, cabe agora a Incaper, SEBRAE, Prefeitura de Dores do Rio Preto e principalmente à SAMARCO compensar o impacto ambiental causado às nossas abelhas nativas, mesmo que involuntariamente, divulgando a criação de das abelhas brasileiras, ensinando a estes apicultores recém formados a importância de se preservar e de criar de forma racional e responsável as nossas abelhas nativas, enquanto elas existem.
     Existe uma grande demanda reprimida por mel da abelha jataí, por exemplo. Os méis das abelhas sem ferrão sempre foram reconhecidos pelas populações tradicionais como tendo poder curativo, além de serem famosos pelo sabor,  textura e cores personalizados. 
     Se no Município de Dores for incentivada a criação racional de abelhas nativas e a produção de mel nativo,a resposta do mercado tende a ser muito positiva, já que a busca pela saúde, e qualidade de vida é uma caracteristica dos visitantes e dos que procuram a região como morada.
     De carona, o turismo rural e educativo podem ser impulsionados com a visita aos meliponários, locais que proporcionam lazer e conhecimento com as inofensivas abelhas sem ferrão.
   

Um comentário:

  1. Olá amigo João...,
    realmente,esses incentivos para aumentar a quantidade de abelhas ápis,criadas em nosso país é muito preoculpante,pois com essa prática,...nossas abelhas nativas vão sofrer cada vez mais...,ficando cada vez mais perto da extinção(inclusive,muitas dessas espécies já estão em fase extinção),e as autoridades em vez de tentar salvar as nossas abelhas nativas...,trazem mais dificuldades´para elas...

    Parabéns pela bela postagem.
    Um abraço.
    Paulo Romero.
    Meliponário Braz.
    João Pessoa,PB.

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