sábado, 8 de março de 2014

A criação ainda é pouco difundida no Espírito Santo, mas prática comum no vizinho Rio de Janeiro, no Rio Grande do Sul e no Amazonas. Uma tradição que começou com os indígenas, antes mesmo da chegada dos portugueses ao Brasil,  é mantida por poucos meliponicultores capixabas. No Estado, ainda não há muito interesse por esse tipo de criação, que reúne 300 espécies catalogadas. Dentre elas, Jataí, a que melhor se adequou ao espaço urbano, uruçu amarela, mandaguari, mandaçaia e as várias abelhas mirins. Meliponicultura consiste, basicamente, na criação de abelhas sem ferrão, de origem brasileira, técnica que é diferente da apicultura, que é a criação das abelhas do gênero Apis, chamada de abelha africanizada.
 
Segundo o site O Eco, a variedade Apis mellifera L. foi trazida ao Brasil por volta de 1839, pelo padre português Antonio Carneiro, para produzir cera e mel. Em 1956 a abelha africana Apis mellifera scutellata chegou ao país para investigação científica. As duas espécies se miscigenaram, dando origem à abelha africanizada, que monopolizou a produção no Brasil devido à sua alta produtividade. Enquanto as melipolíneas produzem entre dois e sete quilos de mel por ano, as africanizadas chegam aos 100 quilos anuais.
 
Entretanto, o mel das melipolíneas possui 80% mais propriedades medicinais do que o mel das abelhas africanas, o que faz com que um litro de mel das abelhas brasileiras chegue a até R$ 150 reais, como retrata o meliponicultor Judismar Barbosa, o Júlio. O valor agregado, considera, é muito maior do que o da produção de mel tradicional.
 
Para chegar a esse resultado, que seria uma renda alternativa para um produtor rural, por exemplo, Júlio compara a produção anual de ambas as espécies: enquanto são necessárias 80 mil abelhas africanizadas para produzir 15 litros de mel ao ano, que são vendidos por R$ 20 e, assim, rendem R$ 300 anuais, apenas três mil exemplares de abelhas brasileiras produzem quatro litros de mel por ano. Cada um vendido a R$ 150 reais, rendendo um total de R$ 600 por ano. 
 
Ao contrário do mel da abelha Apis, com bastante concentração de açúcar e apenas 20% de umidade, o mel das abelhas melipolíneas tem cerca de 35% de água e seu gosto varia entre o azedo, o doce e o frutal. É um problema até mesmo na legislação nacional do setor, que considera como mel apenas aqueles que têm concentração semelhante à das abelhas melíferas.
 
Devido à grande quantidade de água, o mel das melipolíneas precisa estar sempre refrigerado para que não fermente ou passe por processos adequados de fermentação se for armazenado no ambiente livre. Essas abelhas, aliás, são bastante seletivas, procuram somente o pólen e o néctar de flores para produzirem seu mel, ao contrário das Apis, que podem utilizar materiais artificiais, como balas e refrigerantes, na fabricação de seu produto. Em oposição às suas co-irmãs africanizadas, esses animais são tão dóceis que, em determinados momentos, chegam a ser temerosos aos movimentos humanos.
 
O próprio formato das colmeias é diferente. As colmeias das abelhas brasileiras não possuem aquele clássico formato feito pelas abelhas que possuem ferrão, que constroem seus favos em gavetas paralelas de caixas quadradas. Os meliponários, que é como se chamam os criadouros das abelhas sem ferrão, podem ser criados em pequenas caixinhas com divisões horizontais, onde as abelhas constroem pequenos potes de cera e depositam o mel. O processo de extração é tão simples que não é necessária nenhuma roupa de proteção. Apenas com o uso de uma seringa se extrai o mel dos potes de cera que as abelhas constroem.
 
Até mesmo a reprodução desses ninhos é fácil. Com uma garrafa pet, embebida em uma mistura de álcool de cereais e a cera da espécie que se quer capturar, as abelhas já são atraídas e, ali, constroem um ninho, que mais tarde pode ser transferido para caixas de madeira. Júlio, atualmente, também realiza experiências com recipientes feitos com isopor reciclado. É um trabalho de baixo custo e que precisa de raras manutenções, apenas garantindo que os predadores naturais (calangos, passarinhos e mosquitos forídeos) não atinjam os ninhos e que as abelhas tenham acesso ao pólen e ao néctar.
 
Além disso, o meliponicultor retrata que essas abelhas são fundamentais para que as árvores frutíferas deem frutos de melhor qualidade, por conta da polinização natural que provocam. Sem esse processo, conta, as árvores podem até dar frutos, mas não tão bons como os que nascem pela fertilização natural provocada pelos pequenos animais. Algumas delas, por serem de menor porte, chegam a polinizar flores ainda menores, chegando onde as abelhas africanas não conseguem. Sem dúvidas, considera, é um benefício para o agricultor familiar que busca melhor qualidade em seus produtos.
 
Entretanto, esses pequeninos animais possuem dois grandes vilões: a destruição das matas e o uso indiscriminado de agrotóxicos. Júlio conta que as árvores são fundamentais para a reprodução das abelhas brasileiras, que se aproveitam de troncos ocos para instalar suas colmeias, e para que haja um manejo sustentável das espécies, é importante que hajam estudos de reflorestamento e de floradas associados a pesquisas sobre as abelhas e os ninhos que constroem. Já sobre os agrotóxicos, considera que seu uso é "um tiro no pé", já que o objetivo é produzir maiores e melhores frutos, sendo que eles próprios matam as abelhas, que são animais fundamentais para a qualidade da polinização e, consequentemente, da produção.
 
A maioria dos criadores das abelhas brasileiras, como relata Júlio, o fazem não com a intenção de vender seu produto, que é escasso, mas sim com a pretensão de não deixá-las extinguir, já que, por exemplo, a espécie Uruçu capixaba está na lista negra (de extinção) do Instituto Nacional do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).
 
Entretanto, para que a criação das abelhas brasileiras seja feita da forma correta e não cause um desequilíbrio ecológico, os meliponicultores precisam da capacitação. Júlio alerta, ainda, para o fato de que os capixabas ainda não conhecem a criação dessas espécies e de que o governo e a iniciativa privada precisam investir em pesquisas, em financiamento para sua criação e em capacitação para futuros meliponicultores. "Temos que quebrar esse paradigma de que são abelhas apenas as que ferroam, já que as espécies brasileiras poderiam ser amplamente disseminadas em parques públicos e no meio dos centros urbanos", enfatizou.
 
Quem tem interesse em se tornar um meliponicultor, pode entrar em contato com os criadores nos endereços abaixo:
 
 
 
Blogs: