segunda-feira, 31 de maio de 2010

dição do dia 28/05/2010 28/05/2010 22h32 - Atualizado em 28/05/2010 23h19

Pólen combate o envelhecimento e ajuda a recuperar energias

O alimento das abelhas tem proteínas e vitaminas que aumentam a nossa energia. É o chamado pólen apícola.

MÔNICA TEIXEIRA Taubaté, SP
Edésio Santos é professor de educação física. Ele corre o tempo todo e, nas horas de folga, pratica exercício. De onde vem tanta energia? “Há 15 anos, eu acordo de manhã e a primeira coisa que eu faço é comer o meu pólen”, revela.
EXTRA: confira aqui a receita de biscoito de pólen e gengibre
Ainda em jejum, Edésio come uma colher de pólen puro, um poderoso suplemento alimentar. “Antes de tomar o pólen, parecia que as coisas eram mais pesadas. Eu até desempenhava bem os meus papeis, só que fazia como se fosse um fardo. Hoje, eu faço muito mais coisas do que eu fazia e as coisas são mais leves”, afirma o professor.
Mas que alimento é esse? É comida de abelha e se chama pólen apícola. “O pólen é a principal fonte protéica da abelha. O néctar é a fonte de carboidratos, o pólen é a fonte de proteínas, minerais e lipídeos. Sem ele, o enxame não se desenvolve. Em poucos dias, três, quatro dias, ele pode definhar e morrer”, explica Lídia Barreto, do Centro de Estudos Apícolas da UNITAU.
Depois de pousar de flor em flor e retirar o pólen, as abelhas voltam para a colmeia carregadas. Cada bolota, como dizem os especialistas, ou bolinha amarela presa à pata é o mais puro pólen.
A cada voo que uma abelha faz, ela volta à colmeia com duas bolotas de pólen. E elas são incansáveis, chegam a fazer 80 voos por dia. Quer dizer que cada abelha produz 160 bolotas de pólen.
Para coletar o pólen, os apicultores usam uma espécie de tela na entrada da colmeia. Os furos são tão estreitos que, para passar, as abelhas são obrigadas a derrubar os grãozinhos do lado de fora.
Mas nem todo pólen é coletado. Como a tela também tem furos maiores, dois terços da comida extraída das flores vão para dentro da colméia e se transformam no pão das abelhas. O pólen é mais uma evidência de que o que é bom para as abelhas, é excelente para a gente também.
“O pólen no nosso meio é conhecido como bifinho verde. E ele tem uma composição físico-química básica de proteínas similar a um bife, em torno de 20%. Ele tem lipídeos. Esse lipídeo é um lipídeo muito bom com propriedades antioxidantes. É uma gordura, mas uma gordura boa”, destaca Lídia Barreto, coordenadora do Centro de Estudos Apícolas da UNITAU.
E ele desperta cada vez mais a curiosidade dos pesquisadores. Em um laboratório da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo, as pesquisas com pólen mostraram que ele pode ajudar a combater as doenças do envelhecimento.
“Comprovamos, na verdade, que ele tem as três vitaminas antioxidantes, beta caroteno como a pró-vitamina A, a vitamina C e a vitamina E, que são as três antioxidantes”, afirma a farmacêutica bioquímica Lígia Muradian, da USP.

O pólen também é rico em vitaminas do complexo B, que ajudam, por exemplo, no funcionamento do sistema nervoso central, na prevenção e tratamento de cataratas. O grãozinho surpreende.
“Para se ter ideia, as quantidades que foram encontradas de vitamina B1 podem ser associadas às quantidades que se encontra dessa vitamina nas carnes de porco, por exemplo. As quantidades de vitamina B2 que nós encontramos eram superiores às quantidades que se encontra no leite”, explica a química Vanilda Soares de Arruda.
“Acredito que ele deve ser encarado como alimento, um alimento que tem efeito preventivo contra algumas doenças”, ressalta a nutricionista Ilana Pereira de Melo.
A repórter Mônica Teixeira experimenta o pólen na cozinha do laboratório da USP e aprova. “Tem um gosto como se eu tivesse comendo um cereal matinal. É bem crocante. Não parece com mel, mas dá para comer puro sem o menor problema”, comenta.
A recomendação é ingerir 5 gramas por dia, o equivalente a uma colher de sopa, mas ele não precisa ser puro. O pólen está sendo testado como ingrediente na culinária. E já existem maneiras bem mais saborosas de garantir a dose diária desse alimento.
Na Universidade de Taubaté, a cozinha é um laboratório, onde o sabor do pólen é posto à prova: no molho da salada, na salada de fruta, no patê, bolos, biscoitos de pólen e até trufas e bombons.

domingo, 16 de maio de 2010

Melipona capixaba (Hymenoptera: Apidae, Meliponini): variabilidade genética por PCR-RFLP do rDNA e do mtDNA

Ramos, JC; Dutra-Valente, D; Resende, HC; Tavares, MG; Campos, LAO; Fernandes-Salomão, TM
Centro de Ciências Bológicas e da Saúde, Departamento de Biologia Geral, Setor de Biologia Celular e Biofísica, Universidade
Federal de Viçosa.
marbyo@yahoo.com.br
Palavras-chave: PCR-RFLP, Hymenoptera, Melipona capixaba, COI e rDNA
A abelha indígena Melipona capixaba, popularmente conhecida como ‘’uruçu preta’’, é endemica das regiões
motanhosas do estado do Espírito Santo no Brasil e está incluída, desde 2003, na lista de espécies ameaçadas do IBAMA. Com o objetivo de obter subsídeos moleculares que possam ser utilizados na elaboração de plano de manejo voltado para a conservação dessa espécie, foram realizados estudos de diversidade genética de M. capixaba coletadas em diferentes localidades abrangendo os municípios de Afonso Cláudio, Alfredo Chaves, Castelo, Conceição do Castelo, Domingos Martins, Marechal Floriano, Santa Maria de Jetibá, Santa Tereza, Vargem Alta e Venda Nova do Imigrante. Empregando primers específicos, o DNA genômico de 12 operárias adultas foi utilizado para amplificar fragmentos de 1850 pb do gene mitocondrial citocromo oxidase subunidade I (COI) e de 3600 pb da região do rDNA nuclear compreendendo os espaçadores intergênicos 1 e 2 e o gene 5.8S (ITS-1/5.8S/ ITS-2). Ambos os produtos PCR COI e ITS-1/5.8S/ITS-2 foram digeridos com 50 enzimas de restrição. O produto da digestão foi separado por eletroforese em gel de agarose 2% (p/v) ou poliacrilamida 12% (p/v) e os padrões de restrição foram anotados. As análises posteriores foram realizadas utilizando DNA genômico de 93 operárias. Os produtos PCR COI foram digeridos com 5 enzimas de restrição (DraI, HinfI, KspAI, MspI e SspI) e ITS-1/5.8S/ ITS-2 com 3 enzimas (HinfI, MspI e TasI), selecionadas entre as 50 endonucleases previamente testadas. Nenhum polimorfismo foi identificado na região ITS-1/5.8S/ITS-2. A não detecção de polimorfismo nesta região mostra
a fragilidade da espécie em termos de variabilidade. Polimorfismos RFLP foram evidenciados nas sequências
COI e 8 haplótipos mitocondriais (ABABB, AAAAC, BBABB, AAAAA, BAAAC, AAAAD, BABAC e BAABC) foram identificados. Haplótipos COI compartilhados entre amostras de diferentes localidades também foram observados. Uma possível explicação para esse compartilhamento de haplótipos é a prática comum na região de transporte de colônias entre as localidades conduzida por meliponicultores. Os resultados obtidos mostram que esforços no sentido de conduzir o manejo de M. capixaba devem ser efetuados visando aumentar a diversidade e reintroduzir colônias em áreas onde esta abelha foi extinta, contribuindo, assim, para a conservação da espécie.
Apoio: FAPEMIG e CAPES
Melipona capixaba (Hymenoptera: Apidae, Meliponini):
variabilidade genética por PCR-RFLP do rDNA e do mtDNA 55
Veja o trabalho completo em:      



Estrutura Genética - Uruçu Capixaba

sábado, 15 de maio de 2010

João M. F. Camargo - um naturalista dedicado às abelhas (20.06.1941 - 07.09.2009)
Silvia Regina de Menezes Pedro
Departamento de Biologia, Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo. Av. Bandeirantes, 3900, 14040-901 Ribeirão Preto - SP. silviarmp@ffclrp. usp.br
 
 
Pontinhos, milhares deles, e dias depois, após horas ininterruptas de trabalho com a pena e o nanquim, lá estava: uma perfeita representação das obras arquitetônicas das abelhas, um magnífico ninho, composto por milhares de pontos, ilustrando milhões de anos de evolução. Era assim que o Professor Camargo, sempre impecável, nas suas camisas de linho, passava a maior parte do dia, ou desenhando, ou observando na lupa, preciosos detalhes nas formas das abelhas, em sua mesa de bálsamo (talhada "na enxó", por ele mesmo-mais uma obra de arte!), na sua sala, ao lado da coleção de abelhas, na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo; isso, quando não estava no mato, estudando e coletando abelhas-era assim que ele se sentia mais a vontade.
Em tudo o que fazia, havia muita dedicação, quer nos desenhos, quer nos trabalhos científicos, ou nos cuidados com a coleção de abelhas que ele começou a montar nos idos de 1963, com apoio do Dr. W. E. Kerr, que o convidou para uma expedição aos arredores de Manaus. Nesta ocasião, teve seu primeiro contato com floresta e com as belíssimas construções produzidas pelas abelhas, e que foram tão perfeitamente ilustradas por ele (Kerr et al. 1967). Os exemplares coletados naquela ocasião foram identificados pelo Pe. J. S. Moure e "constituíram o embrião da atual coleção", como relatado por ele mesmo em seu Memorial. Em 1966 fez uma viagem solo, de 10 dias, à região de Porto Velho, onde estudou, em detalhe, os ninhos de 10 espécies de Meliponini, e que resultou em sua primeira publicação individual (Camargo 1970). A partir daí, foram inúmeras viagens e expedições científicas, que contribuíram para a montagem do acervo de uma das mais importantes coleções de Meliponini Neotropicais do mundo - a única que inclui também peças das obras construídas por essas abelhas - com mais de 800 ninhos meticulosamente estudados. Mantinha um bom relacionamento com pesquisadores do Brasil e do exterior o que propiciou a incorporação ao acervo de duplicatas da coleção Moure e da coleção Schwarz, inclusive espécimes-tipo, e conferiu maioridade e reconhecimento da coleção em nível internacional. Daí em diante, o intercâmbio constante, além de viagens e levantamentos, permitiu enriquecer consideravelmente a coleção, atualmente sediada no Departamento de Biologia da FFCLRP. Este talvez seja o legado mais precioso para as futuras gerações de estudiosos das abelhas.
Iniciou-se na carreira científica em 1961, quando foi contratado como desenhista pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Rio Claro (atual UNESP) e teve contato com um grupo forte de pesquisa em genética, biologia e taxonomia de abelhas, liderado pelo Dr. Kerr, e com pesquisadores convidados, como S. F. Sakagami, com quem publicou seu primeiro trabalho (Sakagami & Camargo 1964). Nesse período, além de ilustrar dezenas de artigos para vários pesquisadores, iniciou suas próprias pesquisas com abelhas, como o estudo sobre a morfologia externa de Melipona marginata Lepeletier (Camargo et al. 1967), que incluía pranchas desenhadas por ele, impressas em tamanho grande, para serem afixadas em paredes de laboratórios e salas de aula, além de uma operária colorida a guache - uma obra de referência para estudiosos da morfologia de abelhas. A partir de 1965 foi contratado pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto. Nesse período, dedicou-se em grande parte, ao estudo das abelhas africanizadas, morfologia, técnicas de inseminação artificial e apicultura, o que resultou em vários artigos e na editoração do livro Manual de Apicultura (Camargo 1972), com três capítulos de sua autoria, além de trabalhos com outras abelhas. Cursou o mestrado em Entomologia na Universidade Federal do Paraná, estudando a diferenciação geográfica das espécies amarelas de Partamona Schwarz, sob orientação do Pe. Moure, e a dissertação resultante foi publicada integralmente (Camargo 1980).
 
 
Foi contratado como Professor Visitante na Universidade Federal do Maranhão em 1981, e, mais tarde, de volta a Ribeirão Preto, assumiu a disciplina de Entomologia Geral I no curso de Pós-Graduação em Entomologia da FFCLRP, onde foi contratado como técnico de nível superior. O doutorado veio em 1991, com o estudo da sistemática e comportamento dos Meliponini necrófagos obrigatórios, e em 1996, foi concursado como Professor Doutor. Não media esforços na preparação das aulas, e também na orientação de seus alunos de mestrado e doutorado, o que resultou em oito dissertações e oito teses, além de várias monografias de graduação e supervisão de dois pós-doutorados.
Em 45 anos de dedicação a ciência, foram muitas as contribuições para a sistemática e comportamento das abelhas-sem- ferrão: 89 publicações, coincidentemente, também foram 89 os táxons publicados por ele (três gêneros e 86 espécies), todos de abelhas-sem- ferrão, com uma única exceção: Xylocopa (Neoxylocopa) suspecta Moure & Camargo. Revisou a sistemática e comportamento de nidificação de vários gêneros, resultando em artigos ricamente ilustrados (e. g. Camargo & Moure 1994; Camargo & Pedro 2003). A descoberta de uma nova espécie, Trichotrigona extranea Camargo & Moure, com peculiaridades morfológicas e comportamentais - não constrói potes, nem armazena qualquer tipo de alimento -, levou a publicação de um novo gênero (Camargo & Moure 1983; Camargo & Pedro 2007a). Deu a conhecer, também, outros comportamentos inusitados para os Meliponini, como a estocagem de pólen associado com leveduras, que promovem a dessecação e longevidade na ensilagem, só conhecida em espécies de Ptilotrigona Moure (Camargo et al. 1992; Camargo & Pedro 2004), as abelhas necrófagas obrigatórias, que não coletam pólen, nem néctar floral (Camargo & Roubik 1991), e a associação mutualística de Schwarzula coccidophila Camargo & Pedro com cochonilhas (Camargo & Pedro 2002).
Dono de uma acuidade singular na percepção dos pequenos detalhes, mas sem perder a visão do conjunto, Camargo foi capaz de elucidar um pouco da complexa história evolutiva dos Meliponini Neotropicais. Propôs hipóteses de filogenia para vários gêneros, traçou mapas de endemismo e definiu padrões na distribuição do grupo, propondo eventos de quebra e vicariância para explicar a atual diversidade taxonômica encontrada na região Neotropical; conjugando espaço, tempo e forma, concluiu que a Amazônia não é uma unidade histórica, mas sim composta de três grandes compartimentos biogeográficos com relações temporais e filogenéticas distintas (Camargo 2008).
Tinha, por hábito, manter sempre atualizado o seu fichário sobre os Meliponini, nos moldes daquele iniciado pelo Pe. Moure, em Curitiba, acrescentado novas referências sobre as espécies e os assuntos de que tratavam; essas informações, além de atualizações sobre a taxonomia e comentários sobre as espécies, foram compiladas em um capítulo do Catálogo Moure (Camargo & Pedro 2007b), também disponibilizadas online.
Há que se destacar, também, os estudos sobre a bionomia de abelhas Euglossini (e.g. Zucchi et al. 1969), etnobiologia dos índios Kayapó (e.g. Camargo & Posey 1990), comportamento de visita às flores e mecanismos de polinização (e.g. Camargo et al. 1984), além de trabalhos sobre estrutura de comunidades de abelhas visitantes de flores em diversos ambientes.
Seus magníficos desenhos de abelhas, ninhos e flores percorrem o mundo e têm sido reproduzidos em diversas publicações (e.g. Michener 1974; Gottsberger & Silberbauer- Gottsberger 2006).
Perdemos um entomólogo brilhante, que soube como ninguém, retratar as mais belas obras da natureza. Seu legado artístico e científico não será esquecido. João M. F. Camargo faleceu em 07 de setembro de 2009, aos 68 anos em conseqüência de um câncer agressivo.
"Infinitas formas de grande beleza"*: era assim que ele via a natureza (*título do livro de S. B. Carroll (2006), que ele recomendava aos alunos como leitura adicional, e também o nome escolhido pela turma de formandos do curso de Ciências Biológicas da FFCLRP de 2009, que o escolheu como Professor Homenageado, pouco antes de adoecer).
Agradecimentos. Ao Prof. Dr. Gabriel A.R. Melo (Editor Associado da Revista Brasileira de Entomologia) pelo convite para escrever o necrológio do Dr. João M.F. Camargo.
 
REFERÊNCIAS
Camargo, J. M. F. 1970. Ninhos e biologia de algumas espécies de Meliponídeos (Hymenoptera: Apidae) da região de Pôrto Velho, Território de Rondônia, Brasil. Revista de Biologia Tropical 16: 207-239.         [ Links ]
Camargo, J. M. F. (Org.). 1972. Manual de Apicultura. São Paulo, Editora Agronômica Ceres, 252 p.         [ Links ]
Camargo, J. M. F. 1980. O grupo Partamona (Partamona) testacea (Klug): suas espécies, distribuição e diferenciação geográfica (Meliponinae, Apidae, Hymenoptera) . Acta Amazonica 10 (4, supl.): 1-175.         [ Links ]
Camargo, J. M. F. 2008. Biogeografia histórica dos Meliponini (Hymenoptera, Apidae, Apinae) da região Neotropical, p. 13-26. In: P. Vit. (ed.), Abejas sin Aguijón y Valorización Sensorial de su Miel. Mérida, APIBA-DIGECEX, Universidad de Los Andes. 148 p.         [ Links ]
Camargo, J. M. F. & J. S. Moure.1983. Trichotrigona, um novo gênero de Meliponinae (Hymenoptera, Apidae) do rio Negro, Amazonas, Brasil. Acta Amazônica 13: 421-429.         [ Links ]
Camargo, J. M. F. & J. S. Moure. 1994. Meliponinae Neotropicais: Os Gêneros Paratrigona Schwarz, 1938 e Aparatrigona Moure, 1951 (Hymenoptera, Apidae). Arquivos de Zoologia, S. Paulo, 32: 33-109.         [ Links ]
Camargo, J. M. F. & S. R. M. Pedro. 2002. Mutualistic Association Between a Tiny Amazonian Stingless Bee and a Wax-producing scale insect. Biotropica 34: 446-451.         [ Links ]

Própolis Verde



O Brasil exporta setenta toneladas de própolis de abelha por ano para fins medicinais. Um mercado que movimenta 25 milhões de dólares. Os principais compradores são o Japão, Estados Unidos, Alemanha e China.
O extremo interesse internacional é por causa de um tipo de própolis pouco conhecido: a própolis verde.
A própolis verde é especial porque mais de setenta compostos químicos diferentes já foram isolados a partir dessa própolis. Alguns estão sendo usados com sucesso no tratamento do câncer. Para a fabricação da própolis verde, a abelha retira da planta a resina, como a coleta de resina de tronco de árvore, que forma aquela gosma.
Elas são produzidas por uma planta muito comum em Minas, o alecrim-do-campo. A resina serve para defender os brotos do alecrim das doenças e repelir insetos como as formigas. A abelha fica trabalhando, roendo, buscando a parte líquida da brotação. É possível observar que ela deposita a resina nas suas patinhas. É essa mesma resina que é verificada na própolis pronta.
As colônias  de abelhas podem ser atacadas por doenças causadas por vírus fungos e bactérias. Para proteger o lugar onde vivem, elas fabricam a própolis. O nome vem do grego: “pró? quer dizer a favor e “pólis? quer dizer cidade.
O homem conhece os poderes medicinais da própolis desde a antiguidade. A novidade é a descoberta da própolis verde, fabricada com a resina do alecrim-do-campo.
Em Minas Gerais, a vassourinha, ou alecrim-do-campo, é encontrada em grande quantidade nas pastagens.
Antes da descoberta de suas virtudes medicinais, o alecrim-do-campo era usado na fabricação artesanal de vassouras e também para limpar as cinzas do forno a lenha, deixando seus odores nos biscoitos de polvilho. Por isso é chamado também de vassourinha. Ela pertence a mesma família da camomila e do girassol.
A vassourinha é nativa da região central do Brasil, mas pode ser encontrada em quase todas as regiões do país. Os portugueses lhe deram o nome de alecrim-do-campo, porque é muito parecido com o alecrim trazido da Europa, para ser usado como tempero.
É fácil identificar as plantas masculinas e as femininas, as femininas possuem flores fechadas em forma de taças e as masculinas, abertas. Hoje existe um interesse mundial da própolis verde, produzida a partir da resina do alecrim-do-campo.
No município de Cotia, na Grande São Paulo, uma empresa japonesa investiu muito dinheiro na instalação de um laboratório que beneficia própolis verde. Eles compram dos produtores mineiros. Depois de beneficiada, a própolis é analisada em laboratório e exportada para o Japão. A empresa possui própolis em pó. Yoko Schimizo, gerente da empresa, diz que nesse processo, a própolis mantém todas as suas qualidades e perde o gosto forte característico do produto. “Fica bem mais leve e fácil de tomar?.
Na cidade de Campinas, interior de São Paulo, através do trabalho da bióloga Maria Cristina Marcucci, a Fapesp, Fundação de Amparo à Pesquisa, registrou duas patentes de medicamentos extraídos da própolis do alecrim-do-campo. Um desses remédios pode ser usado com muita eficiência para matar bactérias que causam infecção hospitalar, o outro combate bactérias que causam a cárie. “A partir da própolis verde cerca de 30 compostos foram patenteados, incluindo a atividade biológica que cada um apresenta?, diz a bióloga.
Quando questionada se as patentes são brasileiras, ela responde: “Infelizmente, não posso dizer isso, a maior parte vem do Japão. Os japoneses têm esse interesse todo porque a própolis verde apresenta inúmeras propriedades terapêuticas e biológicas, a começar pela atividade antibacteriana, ela atua contra microrganismos, atua no sistema imunológico, prevenindo o aparecimento de doenças e atua também em tumores.
Os compostos do alecrim-do-campo também estão sendo estudados em Minas Gerais, na Fundação Ezequiel Dias, de Belo Horizonte. A bióloga Ester Bastos, especialista no assunto, acrescenta outras razões para o interesse de laboratórios estrangeiros na própolis verde do alecrim. Segundo ela, essa própolis tem uma grande quantidade de ácidos, do grupo dos terpenos, que são muito eficientes na prevenção e no tratamento do câncer. “No Japão, foi isolada uma substância dessa própolis que tem ação ativa contra células tumorais, que já foi patenteada no Japão, apesar do produto ser brasileiro. É provável que em breve seja lançado medicamento à base dessa substância e nós teremos que pagar os direitos para usá-lo.
Para ver de perto o interesse dos japoneses na própolis verde, o Globo Rural foi até o outro lado do mundo. Na cidade de Yokohama, perto de Tóquio, o repórter Mitsuo Kawasaki conversou com o doutor Kaoru Maeda, professor da faculdade de Medicina de Tóquio, especialista em câncer. “A primeira vez que usei a própolis no tratamento de câncer foi há 25 anos. Nós tínhamos vários pacientes sendo submetidos ao tratamento de quimioterapia, receitamos própolis a apenas dois deles, e só eles não apresentaram os efeitos colaterais do tratamento, como queda do cabelo e perda de resistência do organismo. Mas nós não receitamos de qualquer jeito, antes, fazemos o teste de ressonância molecular e entramos com uma dieta alimentar para aumentar a resistência imunológica do paciente. É nessa dieta que entra a própolis verde. Ela não é remédio, mas se você me perguntar onde ela age, eu vou dizer que ela ataca células do câncer e mata bactérias e vírus que aparecem junto com os tumores. Com esse método, nós tratamos vários tipos diferentes de câncer e conseguimos a cura de mais de 90% dos casos.
Aos pés do monte Fugi, na parte central do Japão, vive o professor Hyrofume Naito, membro da Sociedade japonesa de Apiterapia, ciência que usa os produtos das abelhas na cura das doenças. Além da própolis, o professor Naito usa veneno de abelha. Ele tira o ferrão que vem junto com uma bolsinha de veneno e faz a acupuntura em todo o corpo do paciente. O professor explica por que os ácidos do grupo dos terpenos, presentes na própolis verde do alecrim combatem o câncer. Ele diz que de uns quinze anos para cá, a causa de várias doenças dos seres humanos têm sido atribuída à oxidação das células, como exemplo, o câncer de estômago e de fígado. “Muitos produtos naturais são eficientes no combate aos radicais livres que causam as oxidações das células, são os chamados anti-oxidantes, mas nenhum deles até agora mostrou mais eficiência do que a própolis verde.
Shuzo Assumassa é um dos pacientes do professor Naito. Ele diz que tem câncer de próstata e que a própolis tem ajudado muito seu organismo a resistir ao tratamento quimioterápico. “Estou me sentindo bem e até agora nem perdi os cabelos, revela ele.
A senhora Stsuco Kobaiachi se diz fã incondicional da própolis verde, ela diz que toma duas cápsulas por dia para um tratamento de asma. Ela diz que está ótima e acrescenta que várias pessoas da sua família fazem uso da própolis brasileira para combater outro mal, o envelhecimento precoce.
Mas no Brasil, também existem pesquisas visando a prevenção e o tratamento do câncer através das essências da própolis. Na faculdade de Medicina da Unesp de Botucatu, a pesquisadora Deisy Salvatori coordena um trabalho que testou a própolis em ratos que apresentavam tumores cancerígenos no esôfago. O câncer foi provocado por injeção de produtos químicos. “Nós observamos que os animais do grupo que recebeu a própolis apresentaram uma menor freqüência de lesões, tanto de DNA, que são lesões que iniciam o processo do câncer, quanto nas lesões após a cirurgia no animal em que é exposto intestino, é possível perceber que diminuem as alterações nas mucosas do cólon.
Segundo a bióloga, isso significa que a própolis teve uma ação inibidora na formação do câncer. “Ela previne a ação de compostos que são cancerígenos, mas esses resultados são preliminares para que a gente possa dizer que a própolis tem um efeito terapêutico. Ela tem efeito de prevenir e não de curar o câncer.